Artigo: Multimeios

Por Wilson Liberato (De São Paulo/SP)

Artigo: Multimeios
Wilson Liberato é escritor

[Se você detesta trovinhas primárias, evite esta leitura.]

Veja como fui sortudo:
Vi o cinema mudo
Passar a ter som e voz
Foi bom para todos nós.
(Ainda há muitos tambores rufando nas matas!)

Dos discos de 78 rpm, apenas com duas canções,
Vieram os LPs, com doze ou mais interpretações.
Chegaram os CDs, o MP3; os pen-drives.
Músicas a gosto do freguês; até em lives. 
(Ainda há sinais de fumaça ao pé das cascatas!)

Vi a TV em preto e branco aparecer
E ter cores. Ficou melhor de se ver.
Não há quem não se impressione
Com os bons avanços do telefone.
(Ainda há quem goste de escrever cartas!)

Vi as mudanças dos telégrafos e dos correios;
Transmissão por satélite, cobrindo todos os meios.
Vi surgir o gravador junto com a fita cassete.
Veio o computador seguido pela internet.
(Ainda são usados faróis para navios e aeroplanos!)

O rádio, esse teve mudança inusitada,
Ganhou vida a frequência modulada.
Melhoraram os jornais, livros e revistas!
Assisti, condoído, ao fim dos linotipistas.
(Ainda são utilizados todos os gestos humanos!)

Arquivos armazenados em nuvem,
Vai-se o velho e lá vem o jovem.
Vi chegar a Inteligência Artificial,
Sei lá se para o bem ou para o mal.
Coisas assim, tantas de estarrecer,
Modificando modos de estar e ser.
(Ainda há sussurros que nos envolvem.)

Hoje em dia, tudo ou quase tudo é por meio totalmente digital:
Sons, imagens, correios, livro, bancos, ensino, relações, jornal.
Ah, que povo, que mundo maravilhoso é o nosso!
Digo, assim meio sem saber se devo ou se posso:

Minha geração, acho, teve bastante sorte.
O que será que virá após a minha morte?
(Ainda se atira garrafa com recados no espaço e nos oceanos!)