Artigo: O Conjunto Centenário
Por: Jorge Zaidam Viana de Oliveira (De Formiga/MG)
1958, celebrou-se o primeiro centenário de Formiga. As comemorações se prolongaram por quase todo o ano. O Prefeito, Dr. Ary Aluísio Soares, esmerou na organização dos festejos.
A efeméride inspirou o nome de agremiações, de produto alimentício e até de bairros da cidade. Assim surgiram o Clube Centenário, o Café Centenário, o bairro Centenário e um grupo musical que viria a se tornar o memorável Conjunto Centenário. Sob a liderança do trompetista Messias José dos Santos, a banda abrilhantou salões de baile em Formiga e em várias cidades mineiras, incluindo a capital, onde a sua presença era constante em clubes requintados como o Minas Tênis Clube, o Círculo Militar do Exército, o Clube dos Oficiais e o Clube dos Subtenentes e Sargentos, ambos da Polícia Militar, além do celebrado Clube Jaraguá, entre outros. Foi responsável pela música de concursos do Miss Minas Gerais, sendo uma marca registrada nesses certames de beleza feminina, o início do repertório com o Hino Mineiro, quando a plateia acompanhando os acordes do pistonista Messias em dueto com o saxofonista Tio Carlos, cantava o “Oh Minas Gerais, Oh Minas Gerais, quem te conhece não esquece jamais...”, tudo transmitido pela TV Itacolomy.
Em Formiga se apresentava no clube do mesmo nome, para a alegria dos amantes da música e da dança. O início dos bailes era com a música Moolight Serenade, do genial Glenn Miller, tocada suavemente em surdina, quando alguns casais pés de valsa iniciavam movimentos rítmicos no salão, sob o olhar admirado dos presentes que acabavam de chegar, até que, momentos depois, todos bailavam animadamente.
O conjunto, que nasceu quando Formiga completou um século de emancipação como cidade, teve os seus primeiros ensaios na alfaiataria de um dos seus músicos, o saxofonista e contrabaixista José Romão Basílio, na Rua Marechal Deodoro, quase esquina com a General Carneiro. Lá, segundo Maria Luiza Assis Almeida, a conhecida Lili, jovens da época aproveitavam para aprender os primeiros passos da arte da dança. Os dias desses ensaios musicais eram aguardados com ansiedade pelos aspirantes a dançarinos. Anos depois, o conjunto se profissionalizou e os preparativos para as apresentações passaram a ser realizados em uma sala construída para este fim, nos fundos da própria residência do dirigente do grupo, o pistonista Messias. Agora sem a presença de plateia. Os contratos dos bailes ficaram sob a responsabilidade do empresário Jair Fonseca, que também atuava como motorista.
Na fotografia, uma das primeiras do grupo, os músicos são, da esquerda para a direita: próximo ao microfone o cantor Mauro, com o seu vozeirão de barítono, no bongô o ritmista Celso Murari, o baterista “Pranchê”, o trompetista Messias, Ibrain no acordeom, Carlos Basílio, o Tio Carlos, no sax. No contrabaixo o José Romão, pai do Tio Carlos e no violão, o Agostinho.
Os músicos fundadores foram aos poucos sendo sucedidos por outros, o cantor passou a ser o Ari Rogers, a bateria ficou a cargo do Zé Silva, depois substituído pelo Dinamar. Como o acordeom já não oferecia recursos para as músicas mais modernas, seu instrumentista cedeu lugar ao tecladista Tadeu Minucci. O violão foi trocado pela guitarra do Toninho e o contrabaixo passou a ser executado pelo Geraldo Corujinha. O conjunto teve, embora por pouco tempo, uma cantora de nome Vitória. Do grupo inicial só permaneceram o maestro Messias e o seu inseparável companheiro de duetos Tio Carlos.
Foram anos dourados em que o nome de Formiga era lembrado no estado de Minas Gerais através dos acordes do “Centenário”, que, para a tristeza de muitos, encerrou as suas atividades no início da década de 1980.
Parafraseando Tavito, autor da música Rua Ramalhete, quando ele canta: “Vamos deixar tudo rodar – E o som dos Beatles na vitrola – Será que algum dia eles vêm aí – Cantar as canções que a gente quer ouvir?”, para quem conheceu os músicos do Conjunto Centenário: será que algum dia eles vêm aí – e a gente vai dançar, ouvindo as lindas canções tocadas por eles?