Artigo: Os “mauricinhos” e as “patricinhas” formiguenses
Por Lúcia Helena Fiúza (de Palmas/TO)
Quem for ao “Guia dos Curiosos” de Marcelo Duarte vai encontrar qual a origem das expressões “mauricinho” e “patricinha”? Está lá: “Os termos ‘mauricinho’ e ‘patricinha” fazem parte da gíria brasileira. ‘Patricinha’ é usado para designar a moça burguesa e bem vestida, com roupas caras. A socialite Patrícia Mairinque Veiga foi quem inspirou o termo. Além de características como salto alto e unhas pintadas, as modernas ‘patricinhas’ de hoje também ostentam carro importado e celular de primeira linha.
“Acredito que o termo ‘mauricinho’, provavelmente, tenha nascido de algum namorado de alguma ‘patricinha’”, responde o Professor da Universidade Estácio de Sá, autor do livro “De onde vêm as palavras”, Deonísio da Silva. “Eles, ‘patricinhas’ e ‘mauricinhos”, têm um padroeiro, o São Patrício que, apesar de não ter sido um ‘mauricinho’, atuou na Irlanda, junto a alta classe, certo de que o exemplo dos ricos também levaria a conversão dos outros ao cristianismo”.
Falar em “patricinhos” e mauricinhos” ganhou o Brasil quando o ex-governador do Rio de Janeiro Leonel Brizola foi comentar sobre as críticas que recebia pelos locais escolhidos para construir as escolas de tempo integral idealizadas pelo professor e vice-governador Darcy Ribeiro. Muitas das famílias da elite burguesa das imediações não queriam frequentadores de escolas públicas perto de seus filhos. Brizola teria dito que sua preocupação seria o povo em geral, não “os ‘mauricinhos’ e as ‘patricinhas’”.
Passando a história para o contexto formiguense de minha época, não é difícil de relembrar do perfil e a vida dos “mauricinhos” e das “patricinhas” da cidade.
Geralmente, eles eram sócios e frequentavam a boate do Clube Centenário, que, na época, ficava na Praça Ferreira Pires. Era como se se fosse um escurinho do cinema sem cinema. Para compensar os pecados, participavam dos movimentos de jovens da Paróquia São Vicente Férrer. Havia até retiros que aconteciam durante todo o domingo no Parque de Exposições. Muitos iam porque havia confissão comunitária e assim não tinham de contar os segredos ao vigário, muitas vezes, amigo de seus pais.
Os “mauricinhos” e as “patricinhas” também frequentavam, e muito, o Country Clube, que era conhecido como Lagoa. As adolescentes levavam bronzeador e toalha para não sujarem o corpo de areia e os jovens homens tomavam o trampolim só pra eles. Uns jogavam futebol e entre uma partida e outra saiam correndo como se pulassem ondas e pulavam na água. Mais escuro, apenas um funcionário de nome Edson, que, logicamente, era chamado de Pelé.
O Formiga Tênis Clube, Praça de Esportes para os íntimos, era da e para a elite. Pobre só do outro lado do Mata-Cavalo. Quem passar uma olhada nas fotos dos times de vôlei e de basquete e das equipes de natação dos anos 1960 e 1970, só vai ver filhos de quem tinha posses. Ninguém de família de pedreiro, carpinteiro ou pintor de parede, só filho de médico, de dentista, de alto funcionário de algum órgão ou de dono de loja.
Muito engraçado e revelador é ver fotos de concursos de beleza daquele tempo. Com relação aos concorrentes, eu não tenho muita certeza, mas os jurados… só gente com bala na agulha. Era como se os “mauricinhos “ e as “patricinhas” de uma ano antes ganhassem o status de expert em beleza e bom gosto um ano depois. Bem me lembro que os embriões desses jovens eram alunos do Instituto Seis de Junho, da alta burguesia, e da Escolinha da Branca de Neve, da burguesia emergente.
Os “mauricinhos” e as “patricinhas” formiguenses iam todas as férias para Guarapari-ES, tinham bicicleta Monark ou Caloi, a que estivesse na moda, faziam horas dançantes e nunca passavam perto da Vila Padre Remaclo ou da Laginha.
Os “mauricinhos” e as “patricinhas” formiguenses faltavam de aula uma vez por mês para irem apertar o aparelho dentário em Belo Horizonte.
PS.: Estou escrevendo de Palmas, no Tocantins, onde devo passar a morar. Desta vez, eu fui longe demais.