Desassossego das canções de Novelli ecoa forte na primeira edição brasileira do único e denso álbum solo do artista

Lançado há 40 anos na França, o disco de 1984 chega ao mercado nacional em LP com três faixas-bônus em repertório que resiste bem ao tempo. Imagem da edição nacional em LP do álbum ‘Canções brasileiras’ (1984), de Novelli Divulgação Resenha de álbum a partir de reedição em LP Título: Canções brasileiras Artista: Novelli Edição original de 1984: Maracatu Edição em LP de 2024: Rocinante / Três Selos Cotação: ★ ★ ★ ★ ♪ A música de Novelli extrapola o circuito mineiro ao qual o artista costuma ser associado por ter firmado parceria com Ronaldo Bastos, tido composições gravadas por Milton Nascimento – inclusive a música-título do álbum Minas (1975) – e debutado em discos coletivos ao lado de Beto Guedes, Toninho Horta e Nelson Angelo, entre outros nomes. Pernambucano nascido no Recife (PE) em 20 de janeiro de 1945 e criado em Garanhuns (PE), terra de Dominguinhos (1941 – 2013), Djair de Barros e Silva transitou por várias esquinas da música brasileira e, se pertence a algum clube, é ao da MPB dos anos 1970 e 1980. Compositor, pianista e baixista, além de cantor bissexto, Novelli tem esse nome artístico por ter posto os pés na profissão como crooner do pernambucano Conjunto Nouvelle Vague. No Rio de Janeiro (RJ), para onde migrou na segunda metade dos anos 1960, Novelli se tornaria parceiro de gigantes da MPB como Chico Buarque e Djavan. Contudo, o parceiro mais frequente do cancioneiro de Novelli é um mineiro, Cacaso (1944 – 1987), letrista de versos densos e poéticos. Essa densidade melancólica salta aos ouvidos na primeira edição no Brasil do único álbum solo de Novelli, Canções brasileiras (1984), lançado há 40 anos pelo selo francês Maracatu. Gravado no Studio Sextan, em Paris, o disco sai enfim no Brasil em edição em LP fabricada através de parceria entre a gravadora Rocinante e Três Selos. O álbum Canções brasileiras chega ao mercado nacional com a capa original que expõe Novelli em foto de Cafi (1950 – 2019) e com encarte-envelope que apresenta letras, fotos e texto inédito do jornalista Bento Araújo. O bônus da edição brasileira são três gravações inéditas adicionadas às nove faixas originais sem diluir o conceito do álbum. Gravadas por Novelli ao longo dos anos 1980, as novidades são a inédita Um bocadinho (uma das seis parcerias de Novelli com Cacaso alinhadas nas 12 faixas do LP), Alvorada (Novelli e Carlinhos Vergueiro) – música que deu título ao álbum lançado pela cantora Ana de Hollanda em 1980 – e a mais conhecida Triste baia da Guanabara, parceria de Novelli com Djavan gravada pelo cantor alagoano em 1979 para o álbum Alumbramento (1980). Das nove faixas originais de 1984, Teia de aranha (Novelli e Cacaso) envolve o ouvinte em canção que remói lembranças de tempo angustiado vivido em cenário rural. Canção pontuada pelo acordeom de Richard Galliano, cujo toque evoca o tom sacro do órgão das igrejas, Sem fim também situa o eu-lírico em árido sertão existencial. Levada pelo piano de Michel Graillier, Profunda solidão (Novelli e Cacaso) segue na toada desassossegada, expondo coração em desalinho que viaja dentro da canção e, ao mesmo tempo, evidenciando o apuro instrumental do álbum Canções brasileiras. Tal requinte é reiterado no tema instrumental Andorinha, no qual Novelli assume o piano, e em Valsa para Bill Evans (Novelli), tema que a melancolia é soprada pela flauta de Marianne Biltran. Sem palavras, Fabio Novellinho (Novelli) desfia como belo lamento o novelo de tormentos entranhados no disco. Já a regravação de Minas Geraes (Novelli e Ronaldo Bastos, 1976) – música lançada há então oito anos na voz de Milton Nascimento em gravação feita para o álbum Geraes (1976) – abre frestas para que entre algum vento da felicidade enquanto Janelas abertas (Novelli e Ronaldo Bastos) deixa entrar lembranças do primeiro amor pela fresta da memória. Parceria de Novelli com Marcio Borges, um dos letristas fundamentais do Clube da Esquina, Fim de abril encerra o disco – na edição original de 1984, já que a edição de 2024 fecha com a já mencionada Alvorada – com um inventário de tempos cheios de manhãs desertas e cheiro de sangue. E o fato é que, 40 anos depois do lançamento, o único álbum solo de Novelli resiste bem ao tempo porque as canções brasileiras do artista ecoam desassossego que parece infindo.

Desassossego das canções de Novelli ecoa forte na primeira edição brasileira do único e denso álbum solo do artista

Lançado há 40 anos na França, o disco de 1984 chega ao mercado nacional em LP com três faixas-bônus em repertório que resiste bem ao tempo. Imagem da edição nacional em LP do álbum ‘Canções brasileiras’ (1984), de Novelli Divulgação Resenha de álbum a partir de reedição em LP Título: Canções brasileiras Artista: Novelli Edição original de 1984: Maracatu Edição em LP de 2024: Rocinante / Três Selos Cotação: ★ ★ ★ ★ ♪ A música de Novelli extrapola o circuito mineiro ao qual o artista costuma ser associado por ter firmado parceria com Ronaldo Bastos, tido composições gravadas por Milton Nascimento – inclusive a música-título do álbum Minas (1975) – e debutado em discos coletivos ao lado de Beto Guedes, Toninho Horta e Nelson Angelo, entre outros nomes. Pernambucano nascido no Recife (PE) em 20 de janeiro de 1945 e criado em Garanhuns (PE), terra de Dominguinhos (1941 – 2013), Djair de Barros e Silva transitou por várias esquinas da música brasileira e, se pertence a algum clube, é ao da MPB dos anos 1970 e 1980. Compositor, pianista e baixista, além de cantor bissexto, Novelli tem esse nome artístico por ter posto os pés na profissão como crooner do pernambucano Conjunto Nouvelle Vague. No Rio de Janeiro (RJ), para onde migrou na segunda metade dos anos 1960, Novelli se tornaria parceiro de gigantes da MPB como Chico Buarque e Djavan. Contudo, o parceiro mais frequente do cancioneiro de Novelli é um mineiro, Cacaso (1944 – 1987), letrista de versos densos e poéticos. Essa densidade melancólica salta aos ouvidos na primeira edição no Brasil do único álbum solo de Novelli, Canções brasileiras (1984), lançado há 40 anos pelo selo francês Maracatu. Gravado no Studio Sextan, em Paris, o disco sai enfim no Brasil em edição em LP fabricada através de parceria entre a gravadora Rocinante e Três Selos. O álbum Canções brasileiras chega ao mercado nacional com a capa original que expõe Novelli em foto de Cafi (1950 – 2019) e com encarte-envelope que apresenta letras, fotos e texto inédito do jornalista Bento Araújo. O bônus da edição brasileira são três gravações inéditas adicionadas às nove faixas originais sem diluir o conceito do álbum. Gravadas por Novelli ao longo dos anos 1980, as novidades são a inédita Um bocadinho (uma das seis parcerias de Novelli com Cacaso alinhadas nas 12 faixas do LP), Alvorada (Novelli e Carlinhos Vergueiro) – música que deu título ao álbum lançado pela cantora Ana de Hollanda em 1980 – e a mais conhecida Triste baia da Guanabara, parceria de Novelli com Djavan gravada pelo cantor alagoano em 1979 para o álbum Alumbramento (1980). Das nove faixas originais de 1984, Teia de aranha (Novelli e Cacaso) envolve o ouvinte em canção que remói lembranças de tempo angustiado vivido em cenário rural. Canção pontuada pelo acordeom de Richard Galliano, cujo toque evoca o tom sacro do órgão das igrejas, Sem fim também situa o eu-lírico em árido sertão existencial. Levada pelo piano de Michel Graillier, Profunda solidão (Novelli e Cacaso) segue na toada desassossegada, expondo coração em desalinho que viaja dentro da canção e, ao mesmo tempo, evidenciando o apuro instrumental do álbum Canções brasileiras. Tal requinte é reiterado no tema instrumental Andorinha, no qual Novelli assume o piano, e em Valsa para Bill Evans (Novelli), tema que a melancolia é soprada pela flauta de Marianne Biltran. Sem palavras, Fabio Novellinho (Novelli) desfia como belo lamento o novelo de tormentos entranhados no disco. Já a regravação de Minas Geraes (Novelli e Ronaldo Bastos, 1976) – música lançada há então oito anos na voz de Milton Nascimento em gravação feita para o álbum Geraes (1976) – abre frestas para que entre algum vento da felicidade enquanto Janelas abertas (Novelli e Ronaldo Bastos) deixa entrar lembranças do primeiro amor pela fresta da memória. Parceria de Novelli com Marcio Borges, um dos letristas fundamentais do Clube da Esquina, Fim de abril encerra o disco – na edição original de 1984, já que a edição de 2024 fecha com a já mencionada Alvorada – com um inventário de tempos cheios de manhãs desertas e cheiro de sangue. E o fato é que, 40 anos depois do lançamento, o único álbum solo de Novelli resiste bem ao tempo porque as canções brasileiras do artista ecoam desassossego que parece infindo.