Josiane Lima Moura (Professora)
Conhecimento, inteligência e talento quando colocados em prática revelam sabedoria. Filha do empresário Sílvio Peres de Moura e da professora Ana Maria Laudares Lima, Josiane Lima Moura é unanimidade quando se fala em paixão pelo ofício de ensinar e influenciar jovens no árduo caminho acadêmico.
Divorciada e mãe de Isadora Moura Filpi, executiva conceituada e aclamada da “Rede Globo”, Josiane cursou o Fundamental-I no extinto Instituto Seis de Junho, Escolinha da Dona Jalcira, e na Escola Estadual Rodolfo Almeida. O Fundamental II, até o 8º ano, ela fez no Colégio Santa Teresinha e, depois, até o final do Ensino Médio, no Colégio Aplicação. Formou-se em Letras na Fafi/Fuom, atual Unifor, com especializações na mesma área.
Desde cedo, mostrou interesse por várias linguagens da arte que a fizeram buscar cursos como balé, jazz e sapateado, música, por meio de violão e piano: “Neste, não tanto quanto gostaria”, brinca. Também fez trabalhos em pintura em tela, xilogravura e outras áreas das artes plásticas. Na cenografia, teve participação ativa em congressos, seminários, oficinas, principalmente com os grupos “Galpão” e “Ponto de Partida”. Foi figura de destaque em cursos de formação fotográfica com destaque para “Estúdio e Laboratório PeB” e , pelo Atelier de Fotografia de Wilson Avelar em Belo Horizonte.
Sua carreira como docente é vasta. Por vários anos trabalhou no Colégio Santa Teresinha como professora do Ensino Fundamental II e Médio com as disciplinas Língua Portuguesa, Redação para o Enem, História da Arte e Artes Cênicas. Desfez fronteiras prestando serviços à Unifenas - Campus Divinópolis - como professora do Curso de Design – Moda e Estilo com as disciplinas - História da Arte – Moda e Indumentária I e II, Comunicação, Linguagem e Arte, na progressista cidade, fez parte da equipe da Escola Estadual Monsenhor Domingos. Por meio da Secretaria Municipal de Educação da Prefeitura de Formiga, trabalhou em um projeto experimental nas escolas Benedita Gomide Leite e Célia de Melo Eufrásio como professora de Artes Cênicas; na Clinapsi – Clínica de Atendimento Psicológico, foi profissional integrante no setor de projetos. Na rede estadual de Educação, em Formiga, lecionou nas Escolas Jalcira dos Santos Valadão e Abílio Machado e, em Divinópolis, na E. E. Monsenhor Domingos.
“Tenho me dedicado não só às salas de aula, mas à produção e direção anual de eventos culturais e artísticos como peças teatrais, exposições e festivais de arte regionais e nacionais tanto para educadores quanto para alunos. Tenho um dia a dia bastante corrido, mas cultivo grandes paixões como o teatro e o cinema. Adoro bons shows e viajar, sempre que possível, é claro”, comenta Josiane Lima Moura, que atualmente é professora de Língua Portuguesa na Escola Estadual Padre José Sangali, em Córrego Fundo.
“a par”: Qual o risco de seguir a profissão de professora tendo uma mãe como uma das profissionais mais conceituadas da história de Formiga? Há comparações?
Josiane: Risco algum [risos], apenas, muita gratidão e orgulho por saber de seu merecido prestígio. A princípio, quando as pessoas não me conhecem, há uma certa tendência a comparações, mas logo, fica evidente que somos mãe e filha com intenções e propósitos diferentes.
“a par”: Você foi para o magistério por conta própria ou por influência de sua mãe? Ela a incentivou ou deixou tudo acontecer?
Josiane: Por conta própria, até porque, não sou uma pessoa muito fácil de ser influenciada [risos]. Em casa, nossos pais nunca foram de nos influenciar. As coisas foram acontecendo naturalmente. Eu sempre soube que gostava de dar aulas, ler, escrever, explicar coisas, argumentar, contar e ouvir histórias e aprender o tempo todo.
“a par”: Você deu aula de quais matérias durante sua vida profissional?
Josiane: Língua Portuguesa, Literatura, Produção de Texto, História da Arte, Arte Cênica, História da Arte – Moda e Indumentária, Comunicação, Linguagem e Arte, Língua Inglesa.
“a par”: Como foi a sua infância em Formiga?
Josiane: Foi incrível. Essa é a vantagem de crescermos no interior numa época em que se podia brincar nas ruas com os irmãos, vizinhos e amigos, de pular corda, queimada, pique-esconde, andar de patins e bicicleta nas praças, rolimã e skate nas calçadas, sem o medo da violência atual. E, o melhor de tudo isso, foi poder criar vínculos e amizades que seguem até hoje.
“a par”: E a adolescência?
Josiane: Uma loucura [risos]. Aqui em Formiga tínhamos muitas festas, que acabaram se tornando referência na região. As pessoas vinham de fora para prestigiar. Havia exposições com muitos shows, carnaval de clubes e de rua com as escolas de samba Rodera, Quinzinho e Rua Nova, havia uma disputa acirrada. Também tínhamos blocos carnavalescos, gincanas divertidíssimas e bailes comemorativos para datas importantes. Eu posso dizer que participei de tudo que me foi permitido, e intensamente.
“a par”: A vida na faculdade foi fácil?
Josiane: Na faculdade, não foi diferente, conseguir conciliar estudo e diversão com festas e mais festas foi o mais complicado, pois as responsabilidades eram maiores também. Daquela época, lembro com muito carinho dos meus professores, mas prefiro nem citar nomes para não correr o risco de me esquecer de mencionar algum.
“a par”: Como você se interessou pelas artes?
Josiane: Difícil de dizer. Acho que desde sempre a arte esteve presente em nossa criação, na minha e de meus irmãos. Meus pais gostavam de música, dançavam bem, a leitura e a contação de histórias era comum em nossa casa. Minha mãe é muito habilidosa, pintava, e é polivalente. Ela adora plantas, cozinhava, e cozinha até hoje, com maestria, costura, borda, tricota, faz bem tudo a que se propõe fazer. Desde pequenos, ela nos incluía nessas atividades.
“a par”: E como aluna, você fez muitos cursos?
Josiane: Muitos! Fiz e pretendo continuar fazendo. Eu sou muito curiosa e gosto de aprender coisas novas o tempo todo. Adoro participar de congressos, fóruns, seminários e tudo mais. Ultimamente, tenho até pensado em uma nova graduação. Meu interesse pelas várias linguagens da arte me fizeram buscar desde muito cedo cursos como balé, música, pintura em tela, xilogravura e outros. Para o meu preparo em artes cênicas, tenho participação ativa em congressos, seminários, oficinas, fóruns e formação profissional em fotografia.
“a par”: Alguns de seus ex-alunos, como o cantor Saulo Soul, creditam a você o interesse pela arte. Qual o seu processo de trabalho, como você influencia seus orientados?
Josiane: Fico muito feliz por ter podido despertar esse interesse em meus alunos, até porque, essa sempre foi a minha intenção. Trazer para bem próximo de suas realidades o poder, o conhecimento e a libertação que só a arte poderia lhes proporcionar. O Saulo, assim como outros, é um artista muito especial e querido. Ele é dono de um genuíno dom artístico e de uma voz potente, mas, acima de tudo, tem grande determinação e vontade de vencer. Para nós, já é um dos grandes. Quando comecei a trabalhar com Arte artes, há mais ou menos 32 anos, Formiga estava muito carente desse conhecimento. Não tínhamos um cinema, os teatros estavam desativados e todas as festas que comentei anteriormente, no esquecimento. Foi então que fui convidada pela Irmã Maria Clara, antiga diretora do Colégio Santa Teresinha, a uma importante empreitada com “total liberdade”, o que foi fundamental para para mim. Pudemos resgatar todo o potencial artístico que a escola, alunos, famílias e, em contrapartida, toda comunidade pudessem oferecer. E, assim foi...
“a par”: Falando em música, hoje a baixa qualidade impera, principalmente em redes sociais. A internet piorou ou melhorou a relação aluno/arte?
Josiane: Depende. Se conseguimos realizar um bom trabalho, com conhecimento amplo, sem “pré-conceitos” e diretrizes bem estabelecidas, essa relação internet/aluno/arte será diferente com a implantação de novas tecnologias, mas não entendo como pior. Apenas diferente mesmo.
“a par”: Fale um pouco do início de vida profissional.
Josiane: Mais nova, eu fazia traduções de textos Inglês/Português, mapas para trabalhos e outras atividades. Quando estava no ensino médio, era chamada para ministrar plantões de várias disciplinas para alunos com alguma dificuldade que necessitavam de reforço. Gostava desse trabalho. Ainda na faculdade, eu era chamada para substituições em salas de aula. Assim Logo que me formei, já fui para o Colégio Santa Teresinha. Desde então, não parei mais.
“a par”: Como é a vida de lecionar em diversos municípios.
Josiane: Eu gosto bastante. Conhecer lugares, culturas e pessoas diferentes me anima. Além de Formiga, Divinópolis, Pimhui, Pains, Córrego Fundo são algumas das cidades por onde trabalhei por mais tempo, ministrando vários cursos também. Sempre ministrando vários cursos.
“a par”: Como você vê hoje a produção artística em Formiga?
Josiane: Vejo com bons olhos. Caminhamos e evoluímos muito nos últimos tempos. O poder artístico que os formiguenses têm é um diferencial. Vejo iniciativas públicas e privadas de incentivo à nossa arte sendo desenvolvidas. Novos artistas e projetos surgindo a todo tempo. Ainda assim, espero que muito seja feito, sempre mais e mais
“a par”: Como você vê a proximidade da cultura acadêmica das escolas com a cultura popular? Em Formiga, existe preconceito de alunos de escolas particulares com relação à cultura popular?
Josiane: O caminho é longo, mas essa proximidade vem crescendo à medida que currículos oficiais, normas e legislações de conhecimento à cultura popular são entendidas. Lembrar que a escola precisa ser um espaço de trocas culturais, um lugar de propagação e interação da cultura e do conhecimento é primordial para todas as gerações. É preciso ampliar e relacionar conteúdos e construção de interpretações pessoais.
Para mim, o preconceito, seja ele qual for, só existe quando não há conhecimento sobre um determinado assunto. Então, sobre o preconceito de alunos de escolas particulares com relação à cultura popular, entendo que, “se há conhecimento, não há pré-conceito”.
“a par”: Você teve apoio das direções dos lugares que trabalhou pra desenvolver seus projetos?
Josiane: Quase sempre. Em lugares ou em tempos em que o apoio total não existiu, o trabalho se tornou inviável, porque junto a ele sempre foi necessário o “confiar e acreditar”. O sucesso de bons projetos depende dessa junção.
“a par”: Quando você vai falar com seus alunos sobre arte, como você explica arte?
Josiane: Quando a fala é inicial, eu proponho situações para que eles percebam que arte não se explica, vivencia-se através da experimentação. A partir desse ponto de percepção, vem a construção do conhecimento através da educação cultural – teorias e práticas de desenvolvimento/vivências.
“a par”: Você é filha de uma professora de sucesso, você também alcançou a excelência. Agora sua filha, Isadora Moura Filpi, é hoje uma das principais executivas da “Rede Globo” na América Latina. Fale um pouco sobre ela.
Josiane: A Isadora tem tido um grande reconhecimento pela empresa, e é merecedora. Ela se formou em relações internacionais e desde pequena se interessava e participava de todo tipo de assunto. Tem personalidade forte, é extremamente determinada e dinâmica, parecia saber, desde sempre, o que queria fazer. É incrível mesmo. Na faculdade, teve uma participação ativa e passou por ótimos estágios. Quando se formou, trabalhou no Indi, Instituto de Desenvolvimento Integrado de MG, então, surgiu o processo seletivo, bem pesado, para trainee na “Rede Globo” e ela resolveu se inscrever. Foram várias etapas e muitos concorrentes para pouquíssimas vagas, mas ela conseguiu e foi para São Paulo. Poucos meses depois, antes mesmo do prazo como trainee ser concluído, fizeram a oferta de emprego. Atualmente, ela é gerente internacional de distribuição de produtos e parcerias do grupo “Globo de Televisão” em todos os países das Américas e está concluindo o MBA pela Fundação Getúlio Vargas.