Jota.Pê concretiza sonhos e encontra um lugar nobre na música com o álbum solo 'Se o meu peito fosse o mundo'
Aos 31 anos, o cantor, compositor e violonista paulista cumpre expectativas com disco em que divide faixa com o trio Gilsons, abre parceria com João Cavalcanti e regrava sucesso de Emicida. Capa do álbum 'Se o meu peito fosse o mundo', de Jota.Pê Tais Valença Resenha de álbum Título: Se o meu peito fosse o mundo Artista: Jota.Pê Edição: Slap (Som Livre) Cotação: ★ ★ ★ ★ ♪ João Paulo Gomes da Silva se confirma como promissor grande nome da música brasileira do século XXI com a edição do segundo álbum solo, Se o meu peito fosse o mundo, nesta quarta-feira, 13 de março. Paulista de Osasco (SP), cidade onde nasceu em 14 de fevereiro de 1993, Jota.Pê – como se identifica o cantor, compositor e violonista de 31 anos – já vinha chamando atenção no ÀVUÀ, duo formado em 2020 com Bruna Black e ainda em atividade. Contudo, ao completar o álbum Se o meu peito fosse o mundo com a adição de cinco faixas inéditas que se juntam às outras cinco apresentadas em EP editado em 27 de outubro de 2023, o artista se impõe com obra pautada pela coesão. Com exceção da abordagem de A ordem natural das coisas (Damien Seth e Emicida, 2019), na qual Jota.Pê soa como mero cover de Emicida sem imprimir a própria identidade na música, o disco apresenta artista com personalidade autoral que começou a ser delineada no álbum anterior Crônicas de um sonhador (2015) e no EP Garoa (2021). Ao tangenciar a autobiografia nos versos de Quem é Juão (Jota.Pê, 2024), o cantor e compositor roça a prosódia do rap, mas tempera o balanço black com o suingue nacional. É nesse território – embasado na mistura da levada brasileira com o acento da música negra norte-americana e com a ancestralidade africana – que se situam o álbum e o artista. Basta ouvir Um, dois, três (Jota.Pê, 2023), música nascida em 2015 como samba e gravada com groove evocativo tanto do samba-rock como dos bailes charmes, para perceber a azeitada fusão. Há nobreza no canto e no cancioneiro de Jota.Pê, o que realça o sentido da capa do álbum criada pela fotógrafa Taís Valença com inspiração na obra do artista plástico afro-americano Barkley L. Hendricks (1945 – 2017), pioneiro ao retratar pessoas negras com ar nobre e com ênfase na elegância dos que posavam para as lentes de Hendricks. A nobreza de Jota.Pê salta aos ouvidos na canção Ouro marrom (Jota.Pê, 2023), joia de sensibilidade em que o artista expõe a relação com a negritude e se posiciona em relação ao racismo, dando peso na balança ao orgulho de ser preto. Ouro marrom reluz em gravação feita somente com a voz e o violão de Jota.Pê – e esse instrumental econômico é suficiente para expor o brilho da canção. O que jamais tira o mérito dos toques de músicos como Chibatinha (guitarrista da banda baiana Àttøøxxá), Fi Maróstica (baixo), Kabé Pinheiro (bateria), Marcelo Mariano (baixo), Silvanny Sivuca (percussão), Samuel Silva (piano), Weslei Rodrigo (baixo) e Will Bone (metais) nos arranjos pautados pela elegância contemporânea. A banda foi fundamental, por exemplo, para expor as intenções do artista em Feito a maré (2024), música composta por Jota.Pê em parceria com José Gil, gravada com a adesão do trio Gilsons e banhada pela alma cabo-verdiana da obra da artista Mayra Andrade. A onda de Feito a maré quebra com suingue na praia de Tá aê (Jota.Pê e Theodoro Nagô, 2023), música também banhada pela obra de Mayra Andrade. Resultante do mix de percussão, violão e sopros, a afro-latinidade da faixa exemplifica a elegância dos arranjos do disco gravado por Jota.Pê no estúdio Gargolândia, em Alambari (SP), no interior do estado de São Paulo, em agosto de 2023, com produção musical orquestrada por Felipe Vassão e Rodrigo Lemos sob direção artística de Marcus Preto. Na seara da canção sobre relação amorosa, Jota.Pê se desvia dos clichês do romantismo nos versos de O que será nós dois (Jota.Pê e Rafa Castro, 2024). Já Caminhos (2024), parceria com o carioca João Cavalcanti, segue percurso existencial, inventariando rotas passadas e vislumbrando trilhas futuras. As crônicas do sonhador são bem escritas. Em Naíse (Nina Oliveira, 2018), música que já cantava em shows, o artista segue a cadência do xote, fora do trilho autoral, em dueto dengoso com Xênia França. Além de ser a compositora do xote, Nina Oliveira é parceira de Jota.Pê em Banzo (2024), canção iluminada pelo sol da juventude e alocada no fim de Se o meu peito fosse o mundo, álbum cheio de grandes sonhos e realizações que confirma as expectativas relativas ao nome de João Paulo Gomes da Silva, cantor, compositor e violonista que já tem um lugar nobre na música feita no Brasil no século XXI.
Aos 31 anos, o cantor, compositor e violonista paulista cumpre expectativas com disco em que divide faixa com o trio Gilsons, abre parceria com João Cavalcanti e regrava sucesso de Emicida. Capa do álbum 'Se o meu peito fosse o mundo', de Jota.Pê Tais Valença Resenha de álbum Título: Se o meu peito fosse o mundo Artista: Jota.Pê Edição: Slap (Som Livre) Cotação: ★ ★ ★ ★ ♪ João Paulo Gomes da Silva se confirma como promissor grande nome da música brasileira do século XXI com a edição do segundo álbum solo, Se o meu peito fosse o mundo, nesta quarta-feira, 13 de março. Paulista de Osasco (SP), cidade onde nasceu em 14 de fevereiro de 1993, Jota.Pê – como se identifica o cantor, compositor e violonista de 31 anos – já vinha chamando atenção no ÀVUÀ, duo formado em 2020 com Bruna Black e ainda em atividade. Contudo, ao completar o álbum Se o meu peito fosse o mundo com a adição de cinco faixas inéditas que se juntam às outras cinco apresentadas em EP editado em 27 de outubro de 2023, o artista se impõe com obra pautada pela coesão. Com exceção da abordagem de A ordem natural das coisas (Damien Seth e Emicida, 2019), na qual Jota.Pê soa como mero cover de Emicida sem imprimir a própria identidade na música, o disco apresenta artista com personalidade autoral que começou a ser delineada no álbum anterior Crônicas de um sonhador (2015) e no EP Garoa (2021). Ao tangenciar a autobiografia nos versos de Quem é Juão (Jota.Pê, 2024), o cantor e compositor roça a prosódia do rap, mas tempera o balanço black com o suingue nacional. É nesse território – embasado na mistura da levada brasileira com o acento da música negra norte-americana e com a ancestralidade africana – que se situam o álbum e o artista. Basta ouvir Um, dois, três (Jota.Pê, 2023), música nascida em 2015 como samba e gravada com groove evocativo tanto do samba-rock como dos bailes charmes, para perceber a azeitada fusão. Há nobreza no canto e no cancioneiro de Jota.Pê, o que realça o sentido da capa do álbum criada pela fotógrafa Taís Valença com inspiração na obra do artista plástico afro-americano Barkley L. Hendricks (1945 – 2017), pioneiro ao retratar pessoas negras com ar nobre e com ênfase na elegância dos que posavam para as lentes de Hendricks. A nobreza de Jota.Pê salta aos ouvidos na canção Ouro marrom (Jota.Pê, 2023), joia de sensibilidade em que o artista expõe a relação com a negritude e se posiciona em relação ao racismo, dando peso na balança ao orgulho de ser preto. Ouro marrom reluz em gravação feita somente com a voz e o violão de Jota.Pê – e esse instrumental econômico é suficiente para expor o brilho da canção. O que jamais tira o mérito dos toques de músicos como Chibatinha (guitarrista da banda baiana Àttøøxxá), Fi Maróstica (baixo), Kabé Pinheiro (bateria), Marcelo Mariano (baixo), Silvanny Sivuca (percussão), Samuel Silva (piano), Weslei Rodrigo (baixo) e Will Bone (metais) nos arranjos pautados pela elegância contemporânea. A banda foi fundamental, por exemplo, para expor as intenções do artista em Feito a maré (2024), música composta por Jota.Pê em parceria com José Gil, gravada com a adesão do trio Gilsons e banhada pela alma cabo-verdiana da obra da artista Mayra Andrade. A onda de Feito a maré quebra com suingue na praia de Tá aê (Jota.Pê e Theodoro Nagô, 2023), música também banhada pela obra de Mayra Andrade. Resultante do mix de percussão, violão e sopros, a afro-latinidade da faixa exemplifica a elegância dos arranjos do disco gravado por Jota.Pê no estúdio Gargolândia, em Alambari (SP), no interior do estado de São Paulo, em agosto de 2023, com produção musical orquestrada por Felipe Vassão e Rodrigo Lemos sob direção artística de Marcus Preto. Na seara da canção sobre relação amorosa, Jota.Pê se desvia dos clichês do romantismo nos versos de O que será nós dois (Jota.Pê e Rafa Castro, 2024). Já Caminhos (2024), parceria com o carioca João Cavalcanti, segue percurso existencial, inventariando rotas passadas e vislumbrando trilhas futuras. As crônicas do sonhador são bem escritas. Em Naíse (Nina Oliveira, 2018), música que já cantava em shows, o artista segue a cadência do xote, fora do trilho autoral, em dueto dengoso com Xênia França. Além de ser a compositora do xote, Nina Oliveira é parceira de Jota.Pê em Banzo (2024), canção iluminada pelo sol da juventude e alocada no fim de Se o meu peito fosse o mundo, álbum cheio de grandes sonhos e realizações que confirma as expectativas relativas ao nome de João Paulo Gomes da Silva, cantor, compositor e violonista que já tem um lugar nobre na música feita no Brasil no século XXI.