O cassino do Chacrinha e outros cassinos
Por Wilson Liberato (De São Paulo/SP)
A palavra cassino é um diminutivo latino para designar casa de campo, mas no sentido de casebre, choupana, habitação miserável. Com o tempo, o cassino virou um tipo de prostíbulo onde se jogava baralho valendo dinheiro; onde se faziam apostas em outras modalidades de jogo. Era um lugar divertido, uma casa também de espetáculos, com artistas de várias vertentes. Mais algum tempo e os cassinos ficaram sofisticados e poderosos, despertando a cobiça de criminosos de todos os tipos, ávidos por esfolar financeiramente os cidadãos com tendência à adrenalina alta dos jogos de azar. Muita grana rola em cassinos e a lavagem de dinheiro não é incomum nesses ambientes. Alguns países os proibiram. Outros os confinaram em locais distantes e definidos. Exemplos: Las Vegas; Punta Del Este; Monte Carlo; Bahamas; Macau; Melbourne...
No Brasil, havia cassinos famosos, mas em 1946, um decreto-lei do general-presidente Eurico Gaspar Dutra proibiu em todo território nacional todas as casas que promoviam jogos de azar. A alegação era a proteção da moral e dos bons costumes, além do combate à sonegação fiscal. A mensagem militar subjacente era “Deus, Pátria e Família.” Fim dos cassinos. Contudo, um filhinho conseguiu escapar: o jogo do bicho. Desde então, várias tentativas foram feitas para a volta dos cassinos, todas infrutíferas.
Anos mais adiante, o pernambucano José Abelardo Barbosa de Medeiros (1917-1988), conhecido como Chacrinha – showman de rádio e TV – lançou o programa Cassino do Chacrinha, veiculado de 1982 a 1988. Ele alegrava o Brasil com divertidas e irreverentes atrações, fantasias e desfile de calouros. Chacrinha foi meu passageiro, quando eu era comissário de voo. Perguntei-lhe se o nome do seu programa era uma ironia, um deboche contra o decreto-lei do finado general-presidente. Ele deu um sorriso maroto, passou a mão na pança, coçou o pescoço e disse: “Se o jovem comissário gosta do meu programa, continue gostando. Eu vim para confundir e não para explicar. Agora, vamos comer e beber!”
Atualmente, há um movimento articulado para a volta dos cassinos. Alega-se a possibilidade dourada de melhorar a arrecadação de impostos, oferta de empregos e atração de investimentos estrangeiros. Daí, a ideia da privatização das praias. Afinal, o Deus agora é outro, assim como são outras a Pátria e a família. Evolução, dizem.
O Lago de Furnas, com certeza, não vai ficar fora dessa onda vindoura de cassinos. Para facilitar, todas suas margens são privatizadas. Muitos estrangeiros virão a essas paragens para se divertir e gastar muito dinheiro. Por vias meio tortas, vai haver demanda de mão de obra. Mas não há o que temer. Afinal, crimes e contravenções não vão atrás de ninguém.
Conselho aos jovens: aprendam inglês. Correndo! Vão precisar de vocês e a remuneração compensa. Preparem-se com urgência, pois mesmo para aprender uma língua com propósito (vocabulário) específico leva tempo. O inglês instrumental.
Senhores, façam suas apostas!