Problemas no Paraíso? Por que 3ª temporada de 'The White Lotus' dividiu fãs e críticos

Série sobre as férias dos super-ricos se tornou uma das mais populares da história da HBO. Terceira temporada da série se passa na Tailândia Fabio Lovino/ HBO Desde o início, a terceira temporada da série sobre os super-ricos de férias, do diretor Mike White, foi cercada de críticas e debates — para onde a série vai a partir daqui? Aviso: este texto contém spoilers Em questão de segundos após o fim do aguardado último episódio da terceira temporada de The White Lotus, exibido no domingo (06/04) à noite, as reações e críticas ao desfecho de 83 minutos já estavam circulando. Os espectadores pareciam estar falando de duas séries completamente diferentes. "Esse foi o melhor final de temporada até agora no universo de The White Lotus", comentou uma pessoa no X, enquanto outra concordou: "Esse episódio foi uma obra de arte." Por outro lado, alguns acharam que "o final foi um grande fracasso — construíram várias tramas ao longo da temporada para encerrá-las abruptamente em 20 minutos, sem qualquer reflexão". E outro comentou que o final "é uma droga... longo demais, muito chato". Essas opiniões divididas refletem bem a temporada como um todo — e também foram sentidas pela crítica. A terceira investida do criador Mike White na fórmula de mistério de assassinato entre milionários em férias — ambientada em resorts de luxo no Havaí (EUA), na Sicília (Itália) e, agora, em Koh Samui (Tailândia) — estaria à altura do que Brian Tallerico, do site de Roger Ebert, chamou de sua "temporada favorita até agora"? Ou teria a série, como escreveu Steven Nguyen Scaife, do jornal Boston Globe, "menos a dizer do que nunca... é uma comfort food (uma 'comida' familiar e reconfortante) disfarçada de crítica social"? Lenta demais Sempre seria uma tarefa complicada para Mike White conquistar a adoração do público pela terceira vez. The White Lotus, que estreou em 2021, já havia vencido 15 prêmios Emmy e dois Globos de Ouro. A série marcou o retorno da atriz Jennifer Coolidge, frequentemente apontada como a musa de White, que interpretou a ingênua herdeira Tanya McQuoid nas duas primeiras temporadas. O papel lhe rendeu dois Emmys, um Globo de Ouro e a tornou uma das favoritas dos fãs. Mas White surpreendeu os espectadores ao final da segunda temporada, matando a adorada personagem de Coolidge — o que deixou os fãs inseguros e incertos sobre os rumos da terceira temporada, e se ela ainda teria o mesmo impacto. Os problemas com a nova temporada talvez possam ser rastreados até os primeiros segundos da terceira temporada, lançada em fevereiro, quando fãs desapontados notaram que, além de a nova música de abertura não ser "um hit", ela também não continha os tradicionais sons de wooo-loo-looos das duas temporadas anteriores. Pode parecer um detalhe menor, mas, para alguns espectadores, era algo essencial para completar a experiência. Na semana passada, o compositor de The White Lotus, Cristóbal Tapia de Veer, revelou ao jornal The New York Times que havia deixado a série após "conversas histéricas" com os produtores. Ele contou: "Mandei uma mensagem para o produtor dizendo que seria ótimo, em algum momento, dar a eles a versão mais longa com os 'ooh-loo-loo-loos', porque as pessoas vão surtar se perceberem que a música estava indo nessa direção. Ele achou uma boa ideia. Mas então o Mike cortou isso — ele não ficou satisfeito. Naquele ponto, acho que tivemos nossa derradeira briga." Além desse drama fora das telas, uma crítica comum à temporada foi de que o estilo narrativo característico de White, de construção lenta, desta vez foi lento demais. O jornal London Evening Standard chamou a série de "dolorosamente lenta". E apesar do elenco repleto de estrelas, diversos personagens — como Mook, interpretada por Lalisa Manoba, do grupo de k-pop Blackpink, ou Fabian, o gerente do resort e aspirante a cantor vivido por Christian Friedel, do premiado filme Zona de Interesse — pareceram extremamente subutilizados e mal desenvolvidos. Fãs que esperavam um clímax no episódio final ficaram decepcionados ao não verem nenhuma grande reviravolta. "Manobal e Christian Friedel nunca tiveram de fato a chance de brilhar — e a série ficou mais pobre por causa disso", disse o Evening Standard. Outras tramas prolongadas, como a do pai envolvido em esquemas financeiros fraudulentos, Tim Ratliff (vivido por Jason Isaacs), tentando matar sua família, nunca chegaram ao conhecimento dos familiares — o que privou o público da aguardada cena em que a esnobe Victoria Ratliff (Parker Posey) descobriria que a família estava falida. O próprio Mike White parece ter previsto parte dessas críticas. "Não é exatamente algo feito para agradar as massas", disse ele à revista The New Yorker. "Não sei o que é, mas vamos ver." E, logo no início do episódio final, o monge budista Luang Por Teera é mostrado dizendo aos seus alunos: "Não há resolução para as questões da vida. É mais fácil ser paciente quando finalmente aceitamos que não existe resolução." Série retrata

Problemas no Paraíso? Por que 3ª temporada de 'The White Lotus' dividiu fãs e críticos

Série sobre as férias dos super-ricos se tornou uma das mais populares da história da HBO. Terceira temporada da série se passa na Tailândia Fabio Lovino/ HBO Desde o início, a terceira temporada da série sobre os super-ricos de férias, do diretor Mike White, foi cercada de críticas e debates — para onde a série vai a partir daqui? Aviso: este texto contém spoilers Em questão de segundos após o fim do aguardado último episódio da terceira temporada de The White Lotus, exibido no domingo (06/04) à noite, as reações e críticas ao desfecho de 83 minutos já estavam circulando. Os espectadores pareciam estar falando de duas séries completamente diferentes. "Esse foi o melhor final de temporada até agora no universo de The White Lotus", comentou uma pessoa no X, enquanto outra concordou: "Esse episódio foi uma obra de arte." Por outro lado, alguns acharam que "o final foi um grande fracasso — construíram várias tramas ao longo da temporada para encerrá-las abruptamente em 20 minutos, sem qualquer reflexão". E outro comentou que o final "é uma droga... longo demais, muito chato". Essas opiniões divididas refletem bem a temporada como um todo — e também foram sentidas pela crítica. A terceira investida do criador Mike White na fórmula de mistério de assassinato entre milionários em férias — ambientada em resorts de luxo no Havaí (EUA), na Sicília (Itália) e, agora, em Koh Samui (Tailândia) — estaria à altura do que Brian Tallerico, do site de Roger Ebert, chamou de sua "temporada favorita até agora"? Ou teria a série, como escreveu Steven Nguyen Scaife, do jornal Boston Globe, "menos a dizer do que nunca... é uma comfort food (uma 'comida' familiar e reconfortante) disfarçada de crítica social"? Lenta demais Sempre seria uma tarefa complicada para Mike White conquistar a adoração do público pela terceira vez. The White Lotus, que estreou em 2021, já havia vencido 15 prêmios Emmy e dois Globos de Ouro. A série marcou o retorno da atriz Jennifer Coolidge, frequentemente apontada como a musa de White, que interpretou a ingênua herdeira Tanya McQuoid nas duas primeiras temporadas. O papel lhe rendeu dois Emmys, um Globo de Ouro e a tornou uma das favoritas dos fãs. Mas White surpreendeu os espectadores ao final da segunda temporada, matando a adorada personagem de Coolidge — o que deixou os fãs inseguros e incertos sobre os rumos da terceira temporada, e se ela ainda teria o mesmo impacto. Os problemas com a nova temporada talvez possam ser rastreados até os primeiros segundos da terceira temporada, lançada em fevereiro, quando fãs desapontados notaram que, além de a nova música de abertura não ser "um hit", ela também não continha os tradicionais sons de wooo-loo-looos das duas temporadas anteriores. Pode parecer um detalhe menor, mas, para alguns espectadores, era algo essencial para completar a experiência. Na semana passada, o compositor de The White Lotus, Cristóbal Tapia de Veer, revelou ao jornal The New York Times que havia deixado a série após "conversas histéricas" com os produtores. Ele contou: "Mandei uma mensagem para o produtor dizendo que seria ótimo, em algum momento, dar a eles a versão mais longa com os 'ooh-loo-loo-loos', porque as pessoas vão surtar se perceberem que a música estava indo nessa direção. Ele achou uma boa ideia. Mas então o Mike cortou isso — ele não ficou satisfeito. Naquele ponto, acho que tivemos nossa derradeira briga." Além desse drama fora das telas, uma crítica comum à temporada foi de que o estilo narrativo característico de White, de construção lenta, desta vez foi lento demais. O jornal London Evening Standard chamou a série de "dolorosamente lenta". E apesar do elenco repleto de estrelas, diversos personagens — como Mook, interpretada por Lalisa Manoba, do grupo de k-pop Blackpink, ou Fabian, o gerente do resort e aspirante a cantor vivido por Christian Friedel, do premiado filme Zona de Interesse — pareceram extremamente subutilizados e mal desenvolvidos. Fãs que esperavam um clímax no episódio final ficaram decepcionados ao não verem nenhuma grande reviravolta. "Manobal e Christian Friedel nunca tiveram de fato a chance de brilhar — e a série ficou mais pobre por causa disso", disse o Evening Standard. Outras tramas prolongadas, como a do pai envolvido em esquemas financeiros fraudulentos, Tim Ratliff (vivido por Jason Isaacs), tentando matar sua família, nunca chegaram ao conhecimento dos familiares — o que privou o público da aguardada cena em que a esnobe Victoria Ratliff (Parker Posey) descobriria que a família estava falida. O próprio Mike White parece ter previsto parte dessas críticas. "Não é exatamente algo feito para agradar as massas", disse ele à revista The New Yorker. "Não sei o que é, mas vamos ver." E, logo no início do episódio final, o monge budista Luang Por Teera é mostrado dizendo aos seus alunos: "Não há resolução para as questões da vida. É mais fácil ser paciente quando finalmente aceitamos que não existe resolução." Série retrata tensão nas férias dos milionários Fabio Lovino/HBO Vítima do sucesso? Será que a série se tornou vítima do próprio sucesso? À medida que a página frenética da série no fórum online Reddit crescia em número de membros, também aumentavam as teorias, especulações e previsões dos fãs. Teoricamente, isso não era algo para o qual a série havia sido concebida na sua temporada de estreia — mas acabou se tornando um elemento com o qual Mike White pareceu brincar nas segunda e terceira temporadas: inserindo pistas e sugestões do que poderia acontecer mais adiante na trama, mas também red herrings (pistas falsas) para despistar o público novamente. Enquanto alguns fãs, talvez, tenham estragado a experiência por conta própria ao prever corretamente as reviravoltas da temporada — como a revelação um tanto clichê sobre a paternidade de um personagem ou quem iria morrer — outros podem ter se sentido frustrados, achando que White exagerou na mão ao inserir falsos indícios demais, que resultaram em tramas ou personagens que, no fim das contas, não tiveram relevância. No entanto, alguns aspectos desta temporada foram amplamente reconhecidos como espetaculares. O retorno chocante do vilão da série, Greg (Jon Gries) — que conseguiu se manter em segredo até a exibição do primeiro episódio — foi um verdadeiro jump scare (um susto que faz pular da cadeira), algo raro na televisão contemporânea. E uma participação especial surpresa — acompanhada de um monólogo ainda mais chocante — de Sam Rockwell como Frank, um amigo de Rick (Walton Goggins) em processo de recuperação, marcou a temporada como inesquecível. A escrita de White e seu talento afiado para capturar a humanidade em toda sua glória e seu grotesco também brilharam mais uma vez. No episódio final, um discurso comovente de Laurie (Carrie Coon) para suas frenemies (termo em inglês que combina as palavras friend, de amiga, e enemy, de inimiga) — destacando como a passagem do tempo a fez valorizar aquela relação em sua vida — e o arco da personagem Belinda (Natasha Rothwell) ilustram a observação de White de que, pelo valor certo, todos nós somos capazes de abrir mão da nossa moral. Foram essas qualidades — e, discutivelmente, os enredos mais "chocantes", como o ménage entre irmãos incestuosos ou as diversas cenas de nudez frontal masculina — que garantiram que, mesmo sendo uma temporada divisiva, a série continuasse atraindo o público. Segundo um porta-voz da HBO ao New York Times: "A segunda temporada de The White Lotus, que estreou em outubro de 2022, ultrapassou os 15 milhões de espectadores, e esta temporada está a caminho de alcançar pelo menos 18 milhões", tornando a série uma das mais populares da história da HBO. E, como alguns críticos também apontaram, mesmo que essa terceira temporada de The White Lotus não tenha sido a melhor, uma "temporada ruim" da série ainda é evento imperdível — e muito acima da média do que se vê na televisão hoje. "Ela é melhor na terceira marcha do que muitos dramas acelerando ao máximo", comentou Carol Midgley, do The Times. Agora, é provável que comece o debate sobre se White deveria ter realmente aceitado continuar com uma quarta temporada — já confirmada pela HBO antes mesmo da estreia da terceira — e as especulações sobre seu novo destino e elenco. White mostrou que ainda sabe como atrair o público; mas será que o próximo destino vai valer mais uma viagem? Por que nudez masculina ainda é rara e um tabu na TV e no cinema 'The White Lotus': 3ª temporada 'é fraca, arrastada e tem muito menos ironia', diz crítica da BBC Por que 'Adolescência' da Netflix é aclamada como 'coisa mais próxima da perfeição na TV em décadas' The White Lotus: O que esperar da 3ª temporada?